A escola deve retomar a centralidade do saber
Por Eduardo Kawamura
Talvez o maior erro de minha geração de educador tenha sido a crença em construir uma escola que pudesse dar conta de ser alegre, acolhedora, divertida e ao mesmo tempo conseguisse ensinar, sem, contudo, utilizar as “estratégias do passado” para consolidar os conhecimentos, por serem estes excessivamente “pesados” para as crianças, levando a crer que, a busca por caminhos “diferenciados” pudesse fazer o conhecimento “aflorar” de forma mais acolhedora. Progressista para alguns, este modelo herda uma configuração escolanovista, talvez a base primeira para a modernização das escolas no Brasil, fundamentada esta em um espontaneísmo, mesclado a modelos e interpretações muitas vezes equivocadas de Jean Piaget, mas que em geral divulga uma narrativa em que o conhecimento haveria de se desenvolver de forma lúdica, não intencional, tendo por foco, fundamento e ponto de partida a criança, sendo o educador, apenas um auxiliador do processo de aprendizagem.
Foram duas décadas mergulhado neste debate, questionando, por um lado, a construção de uma escola enquanto um espaço de acolhida e preparo para o convívio social, e, por outro, a banalização constante dos currículos, atrelado aos baixos desempenhos apresentados por alunos nas mais diferentes situações de exames e avaliações.
Hoje, olhando em perspectiva, não há como não reconhecer uma boa dose de fracasso. Se a escola se tornou de alguma forma um espaço mais acolhedor, assumindo papéis que deveriam partir de secretarias diversas, como saúde, assistência social ou mesmo de cultura, constata-se que, naquele ponto em que se faz jus a escola, que é a construção e disseminação do conhecimento científico humanamente produzido, muito pouco se caminhou nas últimas décadas. É triste assistir gerações formadas em um espaço educacional que muito pouco sabem em termos de linguagem, matemática e humanidades.
Infelizmente este modelo educacional acabou por abrir mão de ensinar conceitos fundamentais para suas crianças. Juntando ao descaso do Estado brasileiro em relação à educação pública, este talvez tenha sido um dos principais alicerces para a precarização das escolas do país.
A educação pode muito, mas não pode tudo. E não podemos de maneira algumas perder de vista qual a verdadeira função social da escola. A centralidade da educação formal deve ser o conhecimento. O objetivo primeiro de nossas escolas deve ser o saber. Adquirir conhecimento, conteúdos formais para, deste modo, qualificar, não apenas o indivíduo, mas a sociedade como um todo. Não podemos esquecer que a educação é um setor estratégico da economia de um país, pois é a partir dela que define-se o papel que determinada nação ocupará nos anos vindouros. Se desejamos um país autossuficiente, soberano, que desenvolva suas próprias soluções a partir da ciência, então devemos saber que são as escolas que construirão as bases para este processo.
Temos hoje uma tarefa urgente de delimitar o lugar social da escola, que neste momento encontra-se inchado por assumir quase que a totalidade das responsabilidades sociais envolvendo crianças e adolescentes. Esta tarefa relaciona-se com o planejamento do que temos em mente para o país em médio prazo. Recolocar o conhecimento no centro do processo educacional, determinar áreas afins que se responsabilizem por questões não relacionadas à educação, são formas de qualificar as novas gerações para a pesquisa científica, tecnológica e social.
Não há fórmula mágica. Sabemos que a soberania do país não se processa apenas com a reformulação das políticas educacionais. Precisamos de pleno emprego e salários dignos. Moradia e saúde pública. Porém, o desenvolvimento de uma escola laica, gratuita e de qualidade, é parte indispensável deste processo.
Um comentário sobre “Debate sobre Educação – A escola deve retomar a centralidade do saber”
Amei o texto ……..muito verdadeiro ….tenho uma impressão que nadamos nadamos e estamos morrendo na praia ….com nossas mentes cansadas e doentes…..Somos umas máquinas manipuladas e usadas, por um bando de gestores incapazes incompetentes que não nos ouvem muito menos nos respeitam …. Somos profissionais intelectuais frágeis num sistema podre ….acreditando que vai dar certo ou acontecerá um milagre …….e os analfabetos ignorantes produzidos na escola acreditando que sabem o que fizeram e aprenderam nela, saem dela muitas vezes piores do que entraram, constatando se isso foi possível … triste …triste ….triste….