Por Larissa Arruda Gonçalves
*A CEGUEIRA*(Obscuros versos – Ellen Carolina)_Por qual razão não quero ver?_ Questiona o eu lírico o porquê de sua cegueira. Nos versos do poema percebemos a ansiedade, angústia e a sensação de perpetuação da condição de estar cego. Enxergar é comparado à vida, como se a escolha por viver implicasse em ler o mundo e enfrentar todas as responsabilidades que a visão traz. Pergunta-se: Por qual motivo não quero viver? Afirma-se: Eu perco meus dois olhos por escolher viver na ignorância. A fuga da realidade implica em uma ignorância ‘consentida’, que mata e atormenta o eu lírico. A escolha de palavras representa a angústia. Aliteração em /m/ e /n/, por serem consoantes nasais, causam no texto a ideia de continuidade dessa dor que é muito bem representada pelas assonâncias em /a/ que como vogal aberta e baixa, traz a língua para o assoalho da boca em uma sugestão de grito: _(…) minhA gArgAntA sufocA, quero gritAr, mAs não ouço, Às vezes tudo não importA.
Recomendado a todos aqueles que se permitirem experienciar obscuridade por versos longos e inquietantes que nos revelam a dor da alma.
Larissa Arruda Gonçalves é educadora, pesquisadora de literatura e autora do livro “A expressividade na poesia dos quatro elementos de Antonio Carlos Secchin” publicado pela Editora Versos em Cantos.