A GARÇONETE
Eliakim Ferreira Oliveira
Bandeja na mão — quando é que a noite vai acabar —, a moça desfila entre as mesas.
Nisso, ele a observa, tenta prestar o máximo de atenção, olhar bem no olho dela quando ela traz a cerveja. E aí, cheio de cerimônia, agradece como se tivesse feito o terno da quina.
— Mais uma rodada? —ela pergunta.
— Sim! Por favor — ele grita.
E lá chegam mais litros dessa cerveja amarga feito a vida.
— Como é mesmo seu nome? — se atreve.
— Paloma.
E agradece a Paloma, como se Paloma fosse uma deusa, ao passo que Paloma franze a testa, suspira, olha para os lados, até careta faz. Ele? Só encanto:
— É que antes só uns velhos atendiam aqui.
Paloma nem ouvir ouve.
Aí o deslumbrado tem uma ideia: viciado na presença de Paloma, não hesita em pedir mais uma, mesmo quando ainda pela metade a do litro. Pois rodada de cerveja pra que te quero:
— Paloma, meu amor, você pode trazer mais uma?
Dez minutos após a quinta, de novo a saudade funda de ver a garçonete:
— Mais uminha, por favor? — e faz bico, cara de choro, credo.
Na décima, os amigos já não suportam, hora de arrastar o bêbado apaixonado:
— Saideira?
Ao que ele brada:
— Só se a Paloma trouxer — ergue um copo.
Metade da última garrafa, pé esquerdo enroscando no direito, caminha, claudicando, até o caixa, toma coragem para declarar:
— Quero te dizer uma coisa… Ô Paloma… — silêncio: — Paloma, você é… a coisa mais linda que já vi — o pobre rapaz, acredite, queria pensar numa cantada mais sofisticada, mas o álcool (você sabe) simplifica as coisas: — Paloma, se eu não tivesse que ir embora agora, se eu não tivesse… ficaria aqui, para conversar com você.
Suspiro da moça, de um lado, a arenga do bêbado, do outro. Ela nada diz. Já ele:
— Tchau, Paloma, vou voltar aqui na sexta-feira, tudo bem?
Calada, sorriso frouxo é o que a moça pôde dar, enquanto o bêbado saiu se arrastando, ao que Paloma se voltou para a colega:
— E este é só o primeiro dia…
São Paulo, 12-09-2021